PERÍODO SABÁTICO

Chegou em boa hora esta coluna do Divã Executivo, no Valor, do dia 06/07/2011: quem deveria estar deitado nele sou eu!

O ano sabático pode prejudicar a carreira?

Desde que comecei minha carreira, gosto de alternar três anos de trabalho intenso com um ano sabático, que uso para viajar e me dedicar a projetos pessoais. Esse esquema funciona muito bem para mim: considero três anos tempo suficiente para encerrar um ciclo na companhia e costumo receber propostas de emprego com certa frequência na volta. Além disso, sempre volto com energia e ideias renovadas para encarar a pesada rotina da minha profissão. Meu atual chefe, porém, disse que esse comportamento poderia me prejudicar e que só estou conseguindo manter esse estilo de vida porque o mercado está aquecido. Fiquei preocupado, pois gostaria de continuar nesse ritmo, mas receio comprometer meu futuro profissional. O que devo fazer?

Consultor de tecnologia, 36 anos

Resposta:

Tenho certeza que o seu questionamento ajudará na reflexão de muitos profissionais que cada vez mais têm escolhido o ano sabático como item obrigatório na busca por qualidade de vida e autoconhecimento.

O costume de aplicar essa pausa na carreira surgiu há dois séculos no contexto acadêmico, com o intuito de propiciar aos professores uma reciclagem profissional e maior produtividade no seu retorno; os períodos de pausa eram de um ano depois de seis lecionando. Porém, quando falamos de escolhas, falamos de referências individuais. Ou seja, nem todo mundo pode enxergar o ano sabático como algo positivo, assim como nem todas as carreiras se adaptam ao modelo que você adotou.

A sua área de atuação (tecnologia) e a sua escolha de carreira (consultor) permitem essa dinâmica e acredito que você consegue aproveitar esse período como gostaria. Existem empresas que se adaptam às necessidades de determinados colaboradores e oferecem o ano sabático dentro de um pacote de benefícios.

No entanto, essa prática é rara, mas pode se tornar uma tendência diante da customização de pacotes de atração e retenção que algumas organizações têm praticado para terem os melhores talentos em seus quadros. A maioria que opta hoje pela realização de um ano sabático faz isso por uma decisão pessoal e, se está vinculada formalmente a uma empresa, acaba tendo que pedir demissão para poder colocar esse projeto em prática.

O problema em seguir a sua dinâmica não é o da empregabilidade, mas sim o de como você visualiza a sua carreira no longo prazo. Caso tenha como objetivo de vida continuar atuando como consultor de tecnologia, não acredito que o ano sabático será um grande entrave, uma vez que essa é uma carreira que permite a você seguir com o seu atual modelo de trabalho. No entanto, se existe algum interesse em progredir profissionalmente e atuar como gestor, aí sim você pode acabar se prejudicando.

Cargos de gestão exigem consistência, desenvolvimento e experiências por períodos mais longos e estáveis. Até mesmo para abrir o próprio negócio é necessário ter habilidades e comportamentos que somente ciclos mais completos e mais amplos do que uma contribuição mais pontual como consultor podem oferecer.

Isso significa que seu atual ritmo pode comprometer a sua empregabilidade se você um dia decidir mudar de carreira. Manter a ideia da pausa seguindo outros intervalos de tempo vai depender do seu autoconhecimento e do seu planejamento financeiro.

Os especialistas no tema dizem que, caso você decida pelo ano sabático, é recomendável que você aproveite mesmo o final de um ciclo profissional (cargo, projeto, contexto) para realizar essa pausa e que se programe para que ela realmente aconteça e seja vivida sem nenhum tipo de culpa.

Sofia Esteves é psicóloga com especialização em recursos humanos e presidente do grupo DMRH.