PENSE, DANCE, PENSE

Com cada vez mais frequência, novas teorias derrubam o mito das soluções milagrosas dos brainstormings. Compactuo com a ideia. O artigo que saiu na Ilustríssima, em 4/3/2012, faz um apanhado geral do assunto.

O “brainstorming” vs. o poder dos introvertidos

HÉLIO SCHWARTSMAN
DE SÃO PAULO

Como temos boas ideias? A questão não é trivial e já mobilizou de pensadores do porte de Platão, Descartes e David Hume a empresários preocupados em aumentar a produtividade de seus funcionários. Como não poderia deixar de ser, métodos ditos infalíveis para obtê-las enchem as estantes das seções de livros de autoajuda.

A maioria dessas receitas está errada. E a razão é muito simples: o mundo é um lugar complexo demais para ser subsumido por meia dúzia de fórmulas pré-fabricadas. Para tornar as coisas um pouco mais complicadas, muitas vezes topamos com uma boa ideia sem conseguir identificá-la como tal.

Recentes descobertas na psicologia e na neurociência, ainda que não permitam produzir um guia da criatividade passo a passo, pelo menos servem para descartar determinados mitos que insistem em se perpetuar.

“BRAINSTORMING”

O mais célebre deles é o do “brainstorming”. Como conta o escritor Jonah Lehrer em recente artigo para a revista “The New Yorker”, o conceito surgiu no livro “Your Creative Power” (Myers Press). Nesta obra de 1948, ainda em catálogo, o publicitário norte-americano Alex Osborn, sócio da mítica agência BBDO, prometia dobrar o poder criativo do leitor.

O livro, que foi um inesperado “best-seller”, trazia conselhos como “carregue sempre um caderninho, para não ser surpreendido pela inspiração”. O ponto alto, contudo, estava no capítulo 33, intitulado “Como organizar um esquadrão para gerar ideias”. Osborn dizia que o segredo do sucesso de sua agência eram as sessões de “brainstorming”, nas quais uma dezena de publicitários se reunia por 90 minutos e saía com 87 novas ideias para uma “drugstore”.

A principal regra de um “brainstorming” era “não critique o companheiro”. Para Osborn, “a criatividade é uma flor tão delicada”, que precisa ser alimentada com o louvor e pode ser destruída por uma simples palavra de desencorajamento.

A coisa pegou como uma praga. Osborn escreveu vários outros “best-sellers” e virou guru da literatura de negócios. Os pedagogos também adoraram e até hoje nossos filhos perdem precioso tempo na escola se dedicando a atividades de grupo onde o mantra é jamais criticar o coleguinha, mesmo que ele diga uma tremenda besteira.

O principal problema com o “brainstorming” é que ele não funciona. Como mostra Lehrer, o conceito fracassou já em seu primeiro teste empírico, em 1958. Pesquisadores da Universidade Yale puseram dois grupos de 48 estudantes para propor soluções criativas para uma série de problemas.
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